Tradução livre feita pelo autor do blog de trechos da entrevista do dançarino Kevin Stea, da Blond Ambition Tour á revista The Advocate.
Câmera rodando!
Era a frase que sempre me surpreendia. É incrível como eu
esqueci rápido que as câmeras rodavam.
Os silenciosos homens de preto entravam todas as horas, em
cada oração.
Na primeira parte da Blond Ambition Tour no Japão, eu fazia
caretas para a câmera e tentava muito ser legal como um cara de 20 anos pode
ser. Madonna resistia á intrusão da filmagem no começo mas, como o resto de
nós, passou a ver a equipe de filmagem como a equipe da turnê, os músicos e
seguranças.
A filmagem de Truth or Dare aconteceu tão naturalmente que
se revelou uma amizade nascente. No Texas, durante o segundo mês em filmagem, o
diretor Alek Keshishian começou a conduzir entrevistas pessoais conosco. As
questões eram francas e desafiadoras. Meu colega Gabriel Trupin foi antes de mim
e estava visivelmente tremendo quando voltou. Depois de vê-lo nervoso, vigiei
minhas respostas, mas honestamente, eu não tinha muito a dizer de interessante
naquela época. Minha vida tinha sido escolas e ensaios – eu não tinha nada muito
profundo para compartilhar. E eu não imaginava que depois Madonna estaria em
frente a uma TV assistindo ás entrevistas. Foi mais uma maneira de ela nos
conhecer melhor, nossas histórias.
O primeiro teste tinha acontecido meses antes. Quando o
irmão de Madonna, Christopher me chamou para coreógrafo assistente eu fiquei
maravilhado, por que mesmo que eu já tivesse feito de tudo, não achava que
tivesse impressionado nas audições. E poucos dias depois Madonna pediu para
encontrá-la no Club Louie, passaríamos meses juntos e ela estava querendo saber
se eu daria conta. Dez minutos e já estávamos dançando juntos e suando, como se
fizéssemos isso toda semana. Senti como se tivesse viajado á cena de Into the
Groove em Procura-se Susan ... Vi que ela fez o mesmo com os outros, eu estava
sendo observado, mas meu prazer em dançar me fez passar no teste. Ela quis
saber quem eu era dançando fora do palco. Isso foi esperto, legal, humano. Ela
nos observou constantemente desde o primeiro dia, para ver como era nossa dinâmica
juntos. Ela conhecia suas crianças.
Brincar de Truth or Dare, o jogo que deu nome ao filme, não
foi planejado. Acho que foi o Carlton quem deu a idéia conversando com Madonna,
eu Gabriel ou Oliver (corrijam-me), mas isso evoluiu para a parte mais reveladora
da turnê. Nunca fiquei tão chocado como quando Madonna começou a simular
felação numa garrafa de Perrier ou quando me deu um beijo na boca. Era eu que
engasgava pelo seu constante uso da palavra “fuck”. Depois, na refeição, pediu
que nos reuníssemos á mesa e falássemos o que um achava do outro. Isso foi
igualmente aproximador e separador.
Nos tornamos uma família naqueles meses, com todo o amor,
disfunções, o drama e triunfo que isso trouxe. Aprendi a respeitar Madonna como
artista em todas as formas. Mais que sua música, respeito como ela defende o
que acredita Eu a vi várias vezes defendendo sua música, seu show, nós, seus
amigos e a liberdade de expressão. Até queles momentos eu nunca tinhe
verdadeiramente percebido que diferença uma única pessoa pode fazer, como
palavras e imagens podem ficar para sempre na consciência do público.
Só agora, nos últimos sete anos mais ou menos e com as
mídias sociais, eu realmente vi o impacto daquele filme no pop e na cultura
gay. Constantemente recebo mensagens de pessoas reforçando como aquele filme
mudou suas vidas. O que mais ouço é que isso os ajudou a aceitar sua
sexualidade e perceber que poderiam ser gays e felizes. O estigma sobre os gays
na era Reagan e a falta de visibilidade na mídia deixaram tantos isolados,
sozinhos e se sentindo diferentes. Isso trouxe esperança para toda uma geração
da comunidade LGBT
É fácil esquecer o contexto social de Truth or Dare e como a
visibilidade LGBT progrediu.
Antes desse filme eu não via gays na TV e só alguns em
filmes comerciais e repentinamente eu era um deles. Eu não tinha abraçado minha
sexualidade ainda mas explorava isso abertamente e me descobria em turnê. Estava
fascinado por Luis e Jose Extravaganza que eram assumidos há anos, mas o que
significava ser gay? Vendo a Parada Gay em Nova York, foi informativo e
confuso. O filme me assumiu, mesmo que eu não tivesse certeza se era gay. Eu
tinha atração por homens e não negava e descobri um mundo que me recebeu de
braços abertos e ainda o faz.
Eu fui introduzido a todo o mundo na Blond Ambition Tour.
Sou afortunado de ter o registro daquela aventura pelas câmeras. Foi minha festa
de sair do armário e com uma anfitriã como Madonna como eu poderia errar?
Truth or Dare será lançado em Blu Ray em 03 de abril.
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